Revista Ser Família – Janeiro/Fevereiro 2008 – Ano II – Nº 8
Por Julia Manglano
O mundo está em constante mudança com a revolução da informática e dos meios de comunicação. Estamos diante de um fenômeno de massificação e da falta de capacidade de pensar, fazer análises críticas e, consequentemente, diante de uma crise de valores.
As empresas sentem que, para continuarem competitivas no mercado, precisam de pessoas inteligentes (com racionalidade) e de caráter (com virtudes).
Para isso é preciso começar cedo: a sociedade deve investir na educação nos primeiros anos de vida das crianças.
Pesquisas e projetos de investimento na educação maternal e infantil em países como Estados Unidos e Chile revelaram que investir no desenvolvimento infantil gera grandes benefícios em todas as dimensões.
O período de 0 a 6 anos de idade é o de maior otimização e resultado pois 85% do desenvolvimento das capacidades intelectuais se dá até os 6 anos de idade. O mesmo ocorre no desenvolvimento do caráter, pois as crianças de 0 a 3 anos estão no período sensitivo dos hábitos bons da higiene, alimentação, sono e ordem e de 4 a 8 anos, da sinceridade, obediência, sociabilidade, constância e fé. Nesta fase pode ser promovida nas crianças a aquisição de hábitos bons antes que se arraiguem vícios. Uma eficaz prevenção contra drogas, por exemplo, começa nesta fase, onde são criadas as bases para o desenvolvimento da auto-estima, disciplina e força de vontade.
Nos Estados Unidos foi realizado um estudo científico: High/Scope Perry Preschool que identificou os benefícios de uma educação pré-escolar de alta qualidade. De uma amostra de 123 crianças afro-americanas pobres de 3 e 4 anos, 64 receberam uma educação infantil de qualidade: tinham que planejar, fazer e rever as suas próprias atividades, as professoras eram bem treinadas e assessoradas e havia envolvimento dos pais das crianças no processo educativo, por meio de visitas semanais a suas casas. O grupo das crianças foi acompanhado até os 40 anos de idade e comparado com o outro grupo de 59 crianças que não tiveram a mesma educação pré-escolar.
As conclusões foram impressionantes: um retorno de US$17,00 para cada US$1,00 investido na educação pré-escolar. Quase metade das crianças do projeto Perry atingiu a média nacional de notas aos 14 anos versus só 15% das crianças do outro grupo de controle. Também 60% das crianças que estudaram no projeto Perry, aos 40 anos ganhavam US$20.000,00 por ano, comparado a 40% do grupo de controle. As crianças também tiveram índices mais baixos de criminalidade e de uso de drogas.
No Chile, foi criado em 1982 o Programa “Conheça o Seu Filho”, uma iniciativa educacional projetada para focalizar mães e crianças carentes vivendo em áreas rurais. (Publicação Banco Mundial)
Líderes comunitárias habilitadas ajudam a treinar e formar as mães para educarem seus filhos, tanto na parte intelectual como formativa. Em 1994, o Ministério da Educação avaliou os resultados das mães e crianças que tinham participado do Programa, em comparação com um grupo de controle:
- As crianças tiveram melhores resultados no desenvolvimento intelectual
- Tinham melhor desenvolvimento e coordenação de linguagem
- Melhores notas em matemática, leitura e escrita no ensino fundamental
- As mães tinham uma melhor atitude e prática no cuidado de seus filhos e na estimulação intelectual: liam para seus filhos e facilitavam o acesso aos livros
- As mães demonstraram uma maior auto-estima e capacidade de resolução dos problemas.
Em síntese, eram mães profissionais.
Portanto, se é verdade que a solução dos nossos atuais problemas e o futuro da nossa sociedade está na educação, não é menos verdade que o futuro da educação está nos aprendizados realizados nos primeiros anos de vida de nossas crianças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário